Agora, até investimentos de baixo risco são atraentes. Alguns gostam mais dos atrelados à Selic ou ao CDI, enquanto outros preferem os prefixados de curto prazo e indexados à inflação de médio prazo. Claro, sempre adequados aos objetivos e prazos de cada um. Entenda
A Selic voltou aos dois dígitos após quatro anos e meio, trazendo calmaria aos investidores mais conservadores, que gostam de renda fixa. Ontem, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) aumentou a taxa básica de juros pela oitava vez consecutiva. A alta foi de 1,5 ponto percentual, para 10,75% ao ano, como era esperado, e a autoridade monetária indicou que deve diminuir a dose no próximo encontro, em março.
Agora, até investimentos de baixo risco, como títulos atrelados à Selic do Tesouro Direto, fundos simples (antigamente chamados de fundos DI, que compram esses papéis) sem taxa de administração e Certificados de Depósitos Bancários (CDBs) com rendimento a partir de 100% do CDI (o equivalente a partir de 100% da Selic) são atraentes, conforme analistas.
Essas aplicações financeiras costumam ser aconselhadas para guardar o dinheiro da reserva de emergência, que deve ser o primeiro investimento de qualquer um e equivaler a seis meses de gastos, no mínimo. Todas elas oferecem rentabilidade acima da poupança.
Contudo, atualmente, alguns especialistas indicam esses investimentos até para acumular patrimônio para realizar objetivos além da reserva de emergência, como casar daqui um ano ou comprar um carro daqui dois anos. Esse grupo afirma que, neste momento, o retorno oferecido por eles é alto e o risco é baixo, ou seja, o custo-benefício é bom.
“O investimento que eu mais gosto é o Tesouro Selic, pós-fixado, líquido e seguro”, afirma Marilia Fontes, sócia-fundadora da Nord Research. “Acho que a chance de o Banco Central subir juros acima do esperado é maior do que o risco de elevar abaixo da expectativa, por causa da inflação persistente. Se isso acontecer, as taxas dos prefixados e atrelados à inflação serão revisadas para cima, gerando prejuízo a quem comprou. Nesse cenário, as melhores oportunidades estão nos pós-fixados”, recomenda.
Ela ainda sugere CDBs de bancos médios para aqueles que estiverem dispostos a abrir mão de liquidez diária. Quem puder resgatar o dinheiro após um ou dois anos consegue achar CDBs com retorno acima de 120% do CDI. “Há títulos de instituições financeiras mais seguras pagando boas taxas. Não precisa ir para os papéis dos bancos mais arriscados”, aconselha.
Os títulos das instituições financeiras médias e pequenas são mais arriscados porque os emissores têm mais chance de passar por dificuldades financeiras. Até o limite de R$ 250 mil por CPF por banco, o Fundo Garantidor de Créditos (FGC) devolve o dinheiro do investidor se houver problemas com o banco.
Títulos prefixados e atrelados à inflação
Aqueles que mergulharem mais a fundo na renda fixa, correndo mais riscos do que os que ficarem na superfície, podem ganhar ainda mais com títulos prefixados e atrelados à inflação (cujo rendimento é uma taxa prefixada mais o IPCA). Os papéis podem ser do Tesouro Direto ou de bancos e empresas, como CDBs e debêntures, respectivamente, que oferecem rentabilidades mais altas.
Há títulos prefixados de bancos menores oferecendo retornos de 12% ao ano para deixar o dinheiro aplicado por um ano e acima de 13% ao ano para investir por dois anos. É o retorno do antigo e famoso 1% ao mês. Também há papéis atrelados à inflação de bancos menores oferecendo retornos acima de 6% ao ano mais IPCA pelo mesmo período.
O aumento da Selic já foi embutido nos juros desses papéis e é uma boa hora para aproveitá-los antes que eles caiam, conforme alguns analistas. “A alta da Selic já estava bastante sinalizada e estamos próximos ao fim desse ciclo de aumento”, afirma Fernando Ulrich, instrutor educacional da Liberta Investimentos. “É pouco provável que as taxas aumentem ainda mais”, diz.
A expectativa média dos economistas na última segunda-feira (31) era que a Selic acelerasse para 11,75% em 2022, conforme o Boletim Focus do Banco Central, mas as previsões mudam a cada semana. Alguns especialistas acreditam em uma queda de juros ainda neste ano, caso a inflação desacelere.
“Estamos tão próximos dessa parada na alta de juros que o mercado antecipou o pico da alta. Agora é hora de se fixar nas maiores taxas possíveis”, aconselha Laís Costa, analista de renda fixa da Empiricus.
Contudo, é necessário estar disposto a resgatar o dinheiro apenas na data de vencimento para receber o retorno combinado, no caso dos prefixados e atrelados à inflação, e abrir mão da possibilidade de sacar o investimento diariamente, no caso dos papéis de bancos menores e empresas.
Assim, antes de se impressionar com as rentabilidades oferecidas, os especialistas indicam checar se as alternativas estão alinhadas aos objetivos e prazos para realizá-los de cada um.
O risco de comprar títulos prefixados é a Selic aumentar mais do que a taxa contratada e o investidor ficar com a sensação de que perdeu dinheiro. É por isso que os analistas aconselham investir em prefixados de curto prazo agora. “Prefiro os prefixados de até um ano e indico os de até dois anos, no máximo. Ainda podemos ter alguma surpresa de alta de juros”, recomenda Costa.
Os títulos atrelados à inflação são os favoritos de Christiano Clemente, chefe da área de investimentos do Santander Private Banking. Ele gosta tanto de títulos públicos quanto de papéis privados isentos de Imposto de Renda.
“Inflação mais acima de 5% é bastante taxa. A alta da Selic já está conseguindo fazer o seu papel de trazer a inflação para mais perto da meta. Ao comprar esses papéis, o investidor consegue aproveitar a inflação e os juros antes de cederem e, em um cenário o ruim, caso o país não melhore, se defende aplicado em inflação”, afirma.
Os títulos atrelados à inflação funcionam como proteção: quem tiver esses papéis conseguirá proteger da alta dos preços pelo menos parte do seu patrimônio. As taxas preferidas de Clemente são as dos títulos com vencimento de médio prazo, em 2027 e 2028, podendo chegar até 2029.
Menos bolsa, mais diversificação no exterior
Os analistas ainda aconselham diminuir a parcela de ações da carteira para aqueles que não estiverem confortáveis com a volatilidade esperada para os próximos meses, em ano de eleição. Entretanto, os especialistas afirmam que há ações com desconto e que investidores moderados e arrojados não devem se desfazer de bolsa totalmente.
Clemente, do Santander Private Banking, indica manter apenas entre 8% e 12% da carteira em ações aos investidores moderados e arrojados. “A bolsa está relativamente barata e é bom ter um pouco de tudo. Não vejo um cenário em que ela vai cair nem subir dois dígitos. Mas prefiro estar mais em renda fixa”, afirma.
Ele acrescenta que a diversificação de investimentos segue importante em um cenário incerto, inclusive geográfica. No entanto, com a alta de juros nos Estados Unidos e o desempenho negativo das bolsas de Nova York, indica diversificar até as aplicações no exterior. Comprar renda fixa dos EUA, por exemplo, o que pode ser feito por meio de fundos de investimentos, é uma boa alternativa neste momento, conforme o executivo.
“Não é momento de ter muita bolsa americana. Gosto da diversificação internacional, mas a parcela da carteira do exterior tem que estar diversificada. Cada investidor tem o seu perfil, mas pode comprar bolsa chinesa, europeia, renda fixa ou private equity”, recomenda.