Apesar da segunda alta mensal seguida, varejo brasileiro acumula queda de 3,1% no ano e de 0,1% em 12 meses. No 2º trimestre, setor registrou queda recorde de 7,8%.

As vendas do comércio varejista cresceram 8% em junho, na comparação com maio, segundo dados divulgados nesta quarta-feira (12) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Trata-se da segunda alta consecutiva do setor, após tombo nos meses de março e abril.

Com o resultado, o varejo brasileiro acumula queda de 3,1% no ano e de 0,1% em 12 meses. Foi a primeira queda semestral desde o primeiro semestre de 2017 (-0,2%) e a mais intensa desde o 2º semestre de 2016 (-5,6%).

Na comparação com junho de 2019, houve alta de 0,5% – primeira taxa positiva após três meses de perdas nesta base de análise.

resultado veio acima do esperado pelo mercado e fez o setor retornar ao patamar observado antes da pandemia. A expectativa em pesquisa da Reuters era de alta de 5,40% na comparação mensal e de queda de 3,45% sobre um ano antes.

A alta recorde de maio foi revisada pelo IBGE para 14,4%, ante leitura inicial de avanço de 13,9%.

“Apesar dos números positivos nesses dois meses, o varejo fechou o primeiro semestre com -3,1%, frente ao primeiro semestre de 2019, influenciado pelas medidas de isolamento social para contenção da pandemia de Covid-19. Esse resultado semestral é o menor desde o segundo semestre de 2016 (- 5,6%)”, destacou o IBGE.

A receita nominal do varejo, por sua vez, subiu 8,5% em junho. Na comparação com junho do ano passado, subiu 2,7%. No acumulado no 1º semestre, a receita nominal do comércio acumulou elevação de 0,1%. Em 12 meses, tem alta de 2,8%.

Queda recorde de 7,8% no 2º trimestre

comércio fechou o 2º trimestre com queda de 7,8% em relação aos 3 meses anteriores, o maior tombo trimestral do setor já registrado pela pesquisa. No primeiro trimestre, o recuo havia sido de 1,7% sobre o 4º trimestre.

Na comparação com o 2º trimestre de 2019, houve queda de 7,7%, também recorde histórico e primeiro resultado negativo desde o período de janeiro a março de 2017.

Alta em 7 das 8 atividades em junho

Com exceção de artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos (-2,7%), todas as outras 7 atividades analisadas pela pesquisa cresceram ante maio.

O setor de hipermercados, com peso de cerca de 50% no índice geral, registrou alta de 0,7% em junho, acumulando avanço de 5,4% no ano.

comércio varejista ampliado, que inclui também as atividades de veículos, motos, partes e peças e de material e construção, cresceu 12,6% em relação a maio, mas caiu 0,9% na comparação interanual – 4ª taxa negativa consecutiva. No acumulado no ano, a queda é de 7,4% e, em 12 meses, o recuo é de 1,3%.

Desempenho de cada atividade do varejo em junho

  • Combustíveis e lubrificantes: 5,6%
  • Hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo: 0,7%
  • Tecidos, vestuário e calçados: 53,2%
  • Móveis e eletrodomésticos: 31%
  • Artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria: -2,7%
  • Livros, jornais, revistas e papelaria: 69,1%
  • Equipamentos e material para escritório, informática e comunicação: 22,7%
  • Outros artigos de uso pessoal e doméstico: 26,1%
  • Veículos, motos, partes e peças: 35,2% (varejo ampliado)
  • Material de construção: 16,6% (varejo ampliado)

“Os resultados positivos eram esperados porque viemos de uma base de comparação muito baixa, que foi o mês de abril (-17%). Esse crescimento, então, foi praticamente generalizado, distribuído em quase todas as atividades”, observou o gerente da pesquisa, Cristiano Santos.

“Há um movimento de adaptação. Tanto móveis e eletrodomésticos quanto livros, jornais, revistas e papelarias são duas das atividades com maior potencial de adaptação, principalmente nas pequenas e médias empresas, que sempre tiveram o comércio calcado na venda física. Com a pandemia, ao longo do tempo, elas aprenderam a ofertar seus produtos de maneira distinta e a trabalhar com entrega, por exemplo”, acrescentou.

Recuperação desigual entre as atividades

Segundo o IBGE, 3 atividades das 8 atividades analisadas já retornaram ao patamar pré-pandemia em junho: hiper e supermercados, artigos farmacêuticos e móveis e eletrodomésticos, sendo que as duas primeiras foram as únicas que não tiveram suas atividades fechadas por decretos de isolamento social no período.

Apesar do setor continuar em trajetória de recuperação, o patamar de vendas geral segue 4,8% abaixo do recorde alcançado em outubro 2014. Em abril, essa distância chegou a 22,9%.

No comércio varejista ampliado, o patamar atual de vendas está 12% abaixo do recorde alcançado em agosto 2012.

Entre as empresas consultadas na pesquisa, 12,9% relataram impacto em suas receitas em junho das medidas de isolamento social, em um recuo ante 18,1% em maio.

Vendas crescem em 24 estados

O volume de vendas cresceu 24 unidades da federação em junho, na comparação com maio, com destaque para Pará (39,1%), Amazonas (35,5%) e Ceará (29,3%). Rio Grande do Sul (-9,0%), Paraíba (-2,4%) e Mato Grosso (-2,0%) foram os estados que registraram queda.

Perspectivas

economia tem mostrado sinais de recuperação, mas a incerteza permanece elevada diante do número ainda elevado de casos de coronavírus e queda da renda da população.

Para a equipe da XP Investimentos, o resultado do comércio corrobora o entendimento de que as medidas de estímulo vigentes na economia têm surtido efeitos positivos, amenizando boa parte das adversidades trazidas pelas medidas de distanciamento social.

“Mas o resultado acima das expectativas também esboça um efeito de demanda reprimida que caracterizou, principalmente, os meses de março e abril, meses marcados pelas medidas de isolamento social mais severas e maiores incertezas com relação ao avanço do vírus”, escreveram os analistas.

produção industrial cresceu 8,9% em junho, na comparação com maio. Foi a segunda alta seguida do setor, mas ainda insuficiente para eliminar a perda de 26,6% acumulada nos meses de março e abril, quando o setor atingiu o nível mais baixo já registrado no país. No 2º trimestre, a indústria teve queda de 17,5%, na comparação com os 3 primeiros meses do ano, e tombo de 19,4% contra o mesmo trimestre do ano passado.

Analistas tem destacado que a recuperação tem sido mais forte nas vendas no varejo e na produção industrial, enquanto o setor de serviços, mais impactado pelo isolamento social, mostra uma recuperação mais lenta.

A pesquisa Focus mais recente do Banco Central mostra que a expectativa do mercado é de retração de 5,62% para a economia brasileira em 2020.

Em 2019, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o PIB cresceu 1,1%. Foi o desempenho mais fraco em três anos. Nos três primeiros meses de 2020, foi registrada uma retração de 1,5% na economia brasileira. O IBGE divulgará os dados sobre o segundo trimestre em 1º de setembro.

“A surpresa com os dados de comércio varejista em junho (assim como as demais surpresas positivas vindas de alguns indicadores de atividade econômica de curto prazo nos últimos meses) aumenta a probabilidade de que a contração da atividade em 2020 seja menor do que a estimada no início da pandemia”, avaliou a XP, que estima queda de 4,8% do PIB em 2020.

Fonte: G1

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